por Gil Vesolli, sommelière da Casa do Vinho Famiglia Martini
O vinho é o suco de uva fermentado pela ação das leveduras, correto? Sim, correto. Mas não apenas isso.
O vinho é o suco de uva fermentado pela ação das leveduras, correto? Sim, correto. Mas não apenas isso.
Para que o vinho possa chegar até
você vivo e saudável é preciso que haja alguma intervenção humana química,
orgânica ou biodinâmica, em maior ou menor grau.
Por isso existem os diferentes tipos de vinhos a depender
dessa escala de intervenção e da forma como ela é feita. A biodinâmica é a mais
radical e “natural” possível - chegando a alguns extremos sem comprovação
científica de resultados, como tocar música para os vinhedos.
Essa é uma prática semelhante à terapias alternativas de
saúde como a Homeopatia ou heiki, embora também adote práticas saudáveis e
comprovadas. Já os vinhos orgânicos necessitam de certificação e controle, mas
sem práticas não comprovadas como nos biodinâmicos.
Os vinhos “tradicionais”, por outro lado, são partidários do
bom uso da química a favor da viticultura. Os produtos usados devem ser todos
aprovados pelos órgãos responsáveis em cada país produtor, em suas quantidades
e formas permitidas.
Sanitizar as instalações onde o vinho é feito ou as garrafas
no qual ele é embalado requer produtos químicos e são eles que farão com que
microorganismos prejudiciais não afetem o vinho. As uvas recebem tratamentos
químicos variados antes de virar vinho ou estariam sujeitas à todo tipo de
doenças no pé, assim como qualquer fruta.
Leveduras industrializadas são usadas em vinhos
tradicionais, exatamente do mesmo modo que as pessoas usam leveduras
industrializadas para fazer pão em casa.
Para que o vinho torne-se menos sensível às variações de
temperatura, possa ser transportado com segurança e permanecer inalterado em
sua qualidade, também é permitido a adição de aditivos químicos.
O vinho tradicional continua sendo “suco de uva fermentado”.
Os aditivos químicos estão presentes em nosso cotidiano em praticamente tudo o
que comemos e são comprovadamente seguros.
O problema não são os aditivos
químicos, mas o abuso deles por parte de muitos produtores de alimentos,
incluindo obviamente, os produtores de vinho.
Daí o constante conselho que ouvimos sobre conhecer o
produtor e suas práticas.
A filosofia de cada produtor é decisória. Um produtor que
cuide dos seus vinhedos de forma a deixar o vinho “criar-se” com a mínima
intervenção possível é um produtor de vinhos saudáveis, ainda que se utilize dos
aditivos. Não há garantias de que apenas por ser um produtor “natural” o vinho
será saudável, melhor ou de maior qualidade. A depender do produtor, ocorre exatamente o oposto!
A tendência mundial são práticas com menos interferência
química possível, a valorização do terroir e das características sazonais de
cada safra.
Existem milhares de produtores que jamais se renderam à
padronização do vinho - e o consequente abuso químico que isso gera - nunca
cometeram irregularidades em relação à química e produzem vinhos de qualidade e
saudáveis.
Não tomemos todos por aqueles que não o fazem.
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