Por Gilmara Vesolli, sommelière da Casa do Vinho - Famiglia Martini
Chegamos ao grande momento em que o ser
humano conseguiu se equilibrar sobre duas patas!
Isso foi excelente para a evolução de
modo geral, mas bastante infeliz para a coluna e deplorável para o
olfato.
Andando com o nariz afastado do solo,
deixamos de sentir diversos cheiros. A evolução, que nos fez capaz
de inventar armas de caça, também fez com que a visão se tornasse o sentido mais importante.
Continuamos evoluindo, criamos os
primeiros grupos sociais, as primeiras cidades, guerras, religiões,
trânsito, filas de banco e tudo o mais que é possível encontrar em
uma civilização. E por causa da evolução o olfato continuou mudando.
A descoberta das causas das doenças e
a ideia de pecado e devassidão fizeram com que cheiros antes
considerados normais fossem vistos de outras maneiras. Fezes,
secreções, podridão ganharam etiquetas de “nojento”, “pecado”,
“cruzes!”.
Por outro lado os aromas considerados
agradáveis passaram a ser reproduzidos através de técnicas de
extração até chegar à moderna indústria que sintetiza em
laboratório desde o perfume da rosa até o aroma de couro do boi
marrom chamado Zé.
No mundo moderno temos um gigantesco
leque de cheiros agradáveis e desagradáveis, quase sempre
artificiais. Entre em um shopping e você saberá do que estou
falando. Lojas com aromas próprios que nos fazem relaxar, comprar
mais ou nos remetem à fazenda.
Nas cidades grandes sentimos cheiro de
asfalto, de combustível, de fumaça de carros. Produtos de limpeza
cheiram a falso eucalipto, queijos e embutidos suspeitos, a falsos defumados.
Diante de tanta artificialidade
acabamos por estranhar a imensa variação de aromas naturais. Um
pêssego tem aromas completamente diferentes a depender do seu grau
de maturação, da insolação, do tipo e do terroir. Um suco de
pêssego industrializado terá sempre o mesmo cheiro.
Sabendo disso tudo que tal treinar um
pouco seu olfato durante essa semana? Desperte seu nariz e seu olfato
“primitivo”! Semana que vem falarei sobre o papel do paladar,
visão e audição na degustação de vinhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário