Por Gilmara Vesolli, sommelière da Casa do Vinho Famiglia Martini
Muitas pessoas compram vinhos pelo rótulo, ainda que a cultura do vinho tenha sido expandida na última década, através de publicações, oferta de produtos e disseminação de conteúdo.
Ou talvez exatamente por conta disso.
Nas regiões clássicas do Velho Mundo o rótulo é apenas um detalhe. Lá as pessoas convivem com o vinho há milênios e ele faz parte do dia a dia. O que importa por lá é o conteúdo.
Nas regiões do Novo Mundo, cujo cultivo da uva e feitio do vinho começou há apenas alguns segundos se comparado à Europa, a competição acirrada levou os produtores (e em consequência, os consumidores) a prezar outras coisas além do conteúdo da garrafa.
Numa tentativa de ressaltar a originalidade em contrapartida à tradição, destacar-se na prateleira ou apenas chocar, surgiram rótulos dos mais ousados. Nomes mirabolantes, imagens curiosas, materiais diversos. Chamar a atenção pela capa é uma estratégia largamente usada nos mais diversos setores, inclusive nas relações humanas.
Somos acostumados e incentivados a preferir o belo, o curioso ou o apenas diferente para nos destacar dos nossos semelhantes. Não é por acaso que pessoas costumam preterir um rótulo mais simples sem levar em conta o conteúdo.
Mas qual a interferência que o rótulo tem sobre o vinho?
Na verdade, nenhuma. O problema se dá não ao criar um rótulo chamativo, mas quando o consumidor presta atenção apenas à ele. O rótulo mirabolante está lá exatamente para isso, desviar a atenção. O vinho por detrás dele pode ser bom ou ruim, mas o rótulo não deveria jamais ser levado em consideração como fator decisivo para a compra.
Não se julga um livro pela capa, uma pessoa pela cara.
Ou um vinho pelo rótulo.
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