Não raramente os apreciadores do vinho cruzam com descrições
inusitadas a respeito dos aromas do vinho. Vão elas desde o clássico “frutas do
bosque”, passando por “querosene”, um genérico “farmácia”, desagradável “xixi
de gato” indo até o suspeito “colegiais uniformizadas”.
Perguntam-se os iniciantes, justamente duvidando do que leem
e ouvem
“Mas como, como?!”
Não se desespere! Nós vamos te explicar isso agora mesmo.
Descritores Aromáticos
Avaliar os aromas do vinho cria um paradoxo: usamos um meio subjetivo (o
olfato) para se chegar a uma conclusão objetiva (os aromas).
Cada qual percebe apenas os aromas aos quais está
familiarizado. Uma pessoa que jamais viu uma lichia não vai conseguir identificar
esse aroma. O olfato é pessoal e intransferível.
Um vinho que tem aromas de morango, café ou baunilha não leva esses ingredientes na sua composição. Tampouco o que cheira a querosene ou xixi de gato, ufa!
Um vinho que tem aromas de morango, café ou baunilha não leva esses ingredientes na sua composição. Tampouco o que cheira a querosene ou xixi de gato, ufa!
O que existe é a química. São os componentes aromáticos presentes na uva, que vão
interagir entre si, com as leveduras da fermentação, o ar ou a
falta dele, outros componentes, a madeira, o tempo e mais um bocado de coisas,
e resultarão em cheiros que descrevemos como sendo de ameixa, terra molhada ou
suor de cavalo.
Isso quer dizer que a ameixa, a terra molhada ou o suor do
cavalo levam emsua “receita”componentes
aromáticos semelhantes aos que estão presentes naquele vinho.
Os nomes das coisas que usamos para descrever o vinho são chamados
Descritores Aromáticos. Mas se você for um apaixonado por Química e quiser inovar
dizendo que o vinho cheira a 2-metoxi-3-isobutil-pirazina ao invés de “pimentão
verde”, fique a vontade.
Aromas Primários, Secundários e Terciários
Os aromas do vinho podem vir das uvas e permanecer mais ou
menos tempo. Esses são chamados de aromas primários. Costumam ser mais simples e diretos, e mais fáceis de
reconhecer. Um exemplo é o aroma de...uva! Algumas castas, mesmo
depois de fermentadas continuam apresentando seu aroma.
Os aromas secundários acontecem com a fermentação. As
substâncias aromáticas da uva interagem com as leveduras criando novos aromas.
O próprio metabolismo dessas leveduras produz muitos dos compostos aromáticos. Nos vinhos dessa fase
encontramos os aromas de diversas frutas, por exemplo.
Se o vinho passar por madeira, as substâncias aromáticas
dela também vão interagir e formar novos aromas. O famoso aroma de coco ou
baunilha vem justamente dessa interação.
Os aromas terciários, ou bouquet, são encontrados apenas em
vinhos que envelheceram. Um vinho da colheita passada não terá bouquet, sinto muito.
A redução e o ambiente desprovido de oxigênio é que fazem o
milagre do bouquet. Esse estágio ainda é um mistério.
Ninguém sabe exatamente o que acontece dentro da garrafa, durante os anos, para
que o vinho adquira os aromas terciários.
Os aromas terciários são os mais complexos, interessantes e
que levam muita gente aos mais absurdos devaneios. Vale lembrar que a imaginação pode fluir, mas os aromas em si
são físicos. São substâncias químicas voláteis que precisam
tocar o nariz para serem sentidas. Não existe aroma metafísico.
As descrições poéticas, exageradas e insólitas podem remeter
o degustador a momentos passados que envolvem emoções. E os aromas despertam a
emoção como ninguém! Então vale dar um desconto para as licenças poéticas empregadas
por alguns e até se deixar levar vez ou outra...
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